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A pulsão e seus destinos: a libido e a clínica psicanalítica

O que é a pulsão na psicanálise?

A teoria das pulsões formulada por Freud propõe um modelo de sujeito atravessado por forças que não se esgotam no biológico nem se organizam em um saber consciente. Em As pulsões e seus destinos (1915), Freud define a pulsão como um “conceito fronteiriço entre o anímico e o somático” – ela nasce de uma exigência corporal, mas se apresenta como representante psíquico dessa excitação.

Diferente do instinto, que possui objeto e finalidade naturais, a pulsão é parcial, plástica e marcada por sua insistência. É ela que, podemos dizer, anima o corpo biológico, fazendo dele algo “vivo” no sujeito: um corpo erógeno, que deseja, que sofre, que goza.

A direção da pulsão pela linguagem

Essa força cega e repetitiva da pulsão vai encontrando, pela linguagem, certas bordas e destinos. O sujeito, ao se inscrever no campo do significante, tenta dar direção a essa energia que insiste. Como diz Lacan, “a pulsão é o eco no corpo do fato de que há um dizer” (Seminário 11, 1964).

Mas essa borda simbólica nunca captura totalmente a pulsão. Algo sempre escapa, repete, retorna. É por isso que falamos da opacidade da pulsão – ela se manifesta, mas não se deixa apreender por completo.

Os destinos da pulsão segundo Freud

Freud descreve quatro destinos possíveis para a pulsão:

  • Reversão ao seu oposto
  • Volta contra a própria pessoa
  • Repressão
  • Sublimação

Esses destinos são modos de escoamento pulsional, mas também fontes de sofrimento e elaboração. Os sintomas, por exemplo, condensam esses destinos em uma formação de compromisso entre o desejo inconsciente, o recalcamento e as exigências do eu.

A libido como energia pulsional

A libido é a energia das pulsões sexuais. Freud a define como a força que investe objetos, fantasias e zonas do corpo. Ela não se limita à genitalidade – está presente nas investigações infantis, nas idealizações amorosas, nos sintomas neuróticos.

Lacan relê essa noção, ligando a libido ao gozo, à repetição de um circuito que não visa um objeto de satisfação plena, mas que se organiza em torno de uma perda – o objeto a. Como ele diz: “a satisfação da pulsão não depende da obtenção de um objeto, mas da repetição de um circuito” (Seminário 11).

A escuta clínica da pulsão

Na clínica psicanalítica, o analista escuta os efeitos dessa força insistente: os sintomas, os atos falhos, os lapsos, os modos de gozar que retornam apesar do sofrimento. A tarefa não é moralizar, interpretar tudo ou curar no sentido médico, mas permitir que o sujeito leia seus próprios circuitos de repetição, possibilitando deslocamentos, torções, invenções.

É nessa escuta que se articula a tríade pulsão, libido e clínica – a análise como espaço onde a linguagem borda a pulsão sem anulá-la, onde o gozo pode ser simbolizado em parte, e onde o sujeito pode se reconstituir em sua relação com o desejo.

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Referências bibliográficas

  • FREUD, S. As pulsões e seus destinos (1915)
  • FREUD, S. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905)
  • LACAN, J. O seminário, livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise (1964)
  • LACAN, J. Escritos

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