Uma breve reflexão sobre o silêncio na clínica e o manejo ético que ele exige do analista.
Na clínica, o silêncio nem sempre é ausência. Às vezes, é o que mais fala – e o que mais convoca o analista.
Quando o analista, no seu fazer cotidiano da clínica, se depara com o silêncio do analisante, ele, de certa forma, se defronta com o seu próprio silêncio. Como assim? É inevitável não se perguntar: o que esse silêncio está dizendo? E o que, nele, tem a ver com o manejo do analista?
“Estou conduzindo esse tratamento de maneira adequada?”
“Devo intervir ou sustentar esse silêncio?”
O silêncio do analisante pode devolver ao analista algo que toca sua própria falta – não no sentido de uma falha técnica, mas de um ponto estrutural: a impossibilidade de tudo ouvir, de tudo saber, de tudo preencher. É aí que o manejo se torna mais exigente. O analista precisa sustentar essa ausência de garantias. Precisa conter o impulso de tamponar o vazio com palavras, interpretações ou intervenções precipitadas.
É nesse ponto que a abstinência entra em cena – não como técnica rígida, mas como posição ética. Abster-se não é retirar-se, muito menos omitir-se. É sustentar o espaço para que o desejo do analisante possa advir, mesmo que em certos momentos, através do silêncio de ambos.
Há silêncios que sufocam e há silêncios que abrem. Há também aqueles que nos atravessam – e nos lembram que escutar, muitas vezes, é consentir em não saber. Quando dois silêncios se encontram, pode ser que algo do desejo se anuncie. E é nesse instante, rarefeito e intenso, que o trabalho analítico se sustenta.
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